VERÃO 2017/18
(Início: 21/12/2017 às 14 h e 28 min; Término: 20/03/2018 13 h e 15 min)
Horário brasileiro de verão*
No Paraná, historicamente, o verão é uma estação chuvosa. Os sistemas frontais, frentes frias ou quentes, que se deslocam pelo Sul e o Sudeste do País contribuem para instabilizar a atmosfera. Mas não são apenas os sistemas frontais que instabilizam as massas de ar. Há os aglomerados de nuvens que atuam isoladamente ou por vezes alinhados em forma de pequenas linhas de instabilidade. Estes sistemas possuem escalas espaciais menores do que as frentes, no entanto, dependendo da energia disponível no ambiente atmosférico, podem causar chuvas rápidas e que podem vir acompanhadas de trovoadas e/ou rajadas de ventos fortes.
DADOS OBSERVADOS
Principais eventos meteorológicos registrados em outubro, novembro e dezembro (primeira quinzena)
OUTUBRO
O mês de outubro deste ano foi caracterizado pela grande alternância das condições atmosféricas. Não houve períodos prolongados de estabilidade. As massas de ar que predominaram foram bastante instáveis. Houve ao menos dois eventos de incursão de massas de ar frio onde as temperaturas mínimas apresentaram valores inferiores aos 5,0 ºC entre os setores central, sul e o sudeste. De acordo com a Fig. 01 a e b, são plotadas a distribuição espacial da chuva acumulada do mês e o desvio em relação à média respectivamente. Choveu acima da média em todas as regiões paranaenses. Faremos uma revisão bastante rápida e simplificada dos principais eventos meteorológicos que predominaram sobre o Paraná, por ordem cronológica, deste típico mês de primavera:
01 e 02 – Ambiente atmosférico instável após o deslocamento de uma frente fria favoreceu a formação de chuvas isoladas que atingiram a maioria das regiões paranaenses.
03, 04 e 05 – Raro período estendido de três dias na qual a atmosfera ficou estável no Paraná. No dia 03 a temperatura mínima em Pato Branco foi de 4,5 ºC. No dia 04 o frio se intensificou e na estação meteorológica de Gen. Carneiro o valor mínimo da temperatura chegou aos 0,6 ºC. Em Curitiba chegou aos 7,1 ºC. No dia 05 a massa de ar frio perdeu a intensidade e as temperaturas rapidamente voltaram a aumentar.
06 – O eixo de uma frente fria se deslocou sobre o Paraná e causou rajadas de ventos moderados a fortes em várias regiões do interior do estado.
07 e 08 – Vários aglomerados de nuvens alinhados ou isoladamente causaram chuvas no Paraná.
09 – Esta segunda frente fria não atingiu com força o Paraná. Se deslocou quase que inteiramente sobre o Oceano, no entanto, possibilitou o desenvolvimento de chuvas fortes entre o sudeste e o sul do estado.
10 – Ventos moderados a fortes sobre praticamente todas as regiões paranaenses.
11, 12 e 13 – Terceira frente fria. No dia 11, o eixo deste sistema frontal ainda estava sobre o RS. Dia 12, durante o dia, avançou até o sul do PR e retornou ao norte do RS à noite. No dia 13 finalmente se deslocou para o Oceano. As chuvas não foram fortes e atingiram o PR de forma desorganizada.
14, 15, 16 e 17 – Outro período onde a atmosfera se manteve estável sobre a maioria das regiões exceto sobre o leste/sudeste onde chuviscos foram registrados devido ao fluxo de umidade do Oceano para ao continente.
18 – Frente fria sobre o RS. Pré-frontais causaram chuvas isoladas no Paraná.
19 – O eixo da quarta frente fria avançou pelo sul do Brasil e provocou fortes temporais no interior. Em Mal Cândido Rondon o vento máximo foi de 102,2 km/h e em Santa Helena 100,8 km/h. O acumulado das chuvas não foi significativo, porém atingiram todas as regiões paranaenses.
20 – Tempo estável
21 – As instabilidades retornaram ao Paraná com registros de eventos chuvosos localizados.
22 – Quinta frente fria se deslocou rapidamente sobre o Paraná. Chuvas mal distribuídas cobriram todas as regiões.
23 e 24 – Mais uma “onda” de frio. No dia 23, em Gen Carneiro a temperatura mínima registrada foi de 2,2 ºC. No dia 24 a atmosfera se manteve estável, porém com aumento gradual das temperaturas.
25 – Forte instabilidade (baixa pressão bem pronunciada) entre o sul do Paraguai, nordeste da Argentina e o sudoeste do PR e oeste de SC. Durante o dia as áreas evoluíram no sentido sudoeste para nordeste.
26 – Chuvas continuaram a ser registradas sobre todas as regiões.
27 – Temporais continuaram a atingir o interior paranaense. Volumes de chuvas significativos em pontos isolados no norte. Na estação meteorológica de Londrina (sede do IAPAR), nas primeiras 15 h o volume de chuvas chegou aos 115 mm.
28 – Tempo estável
29 e 30 – Forte instabilidade atmosférica voltou a atingir o PR. À noite do dia 29 a intensidade máxima dos ventos atingiu 93 km/h na estação meteorológica de Pinhão. No dia 30 não houve registros de temporais e as chuvas se distribuíram desorganizadas pelo interior do estado. 31 – Chuvas isoladas no leste. Os totais de chuva acumulados e os desvios em relação à média podem ser conferidos na Fig. 1.
NOVEMBRO
No mês de outubro a instabilidade atmosférica foi uma constante sobre o Paraná e nesse mês não foi muito diferente embora os períodos de estabilidade foram um pouco mais persistentes. Temporais e chuvas pontuais foram frequentes. Na Fig. 2 a e b, identificam-se as áreas com maior volume de chuvas registradas e seu desvio em relação à média. Por ordem cronológica estes foram os eventos mais significativos que atingiram o Paraná:
01 e 02 - Temo estável com temperaturas baixas. Em Gen. Carneiro a temperatura mínima foi de 6,4 ºC.
03 e 04 - Baixa pressão entre o Paraguai e o norte da Argentina, fluxo de umidade desde as regiões tropicais até essa área e uma frente fria se deslocando pelo sul do Brasil. No dia 03 foram registrados ventos fortes em Guaíra, 80,6 km/h, Campo Mourão 57,2 km/h e em Palotina 99,7 km/h. No dia 04 os temporais continuaram a ser registrados no oeste e no sudoeste.
05 – Frente fria se deslocando pelo Oceano, entre o litoral do Paraná e o sul de São Paulo. No continente, chuvas isoladas se desenvolveram no período diurno.
06 – Chuvas isoladas apenas no norte do Paraná.
07 – Tempo estável
08 – Instabilidade causada pelo forte calor em ambiente atmosférico úmido. Chuvas (pancadas) acompanhadas por grande concentração de raios.
09 – Frente fria entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
10 – Evolução do eixo da frente fria em direção ao Paraná. No período da manhã ventos fortes foram registrados no oeste e no sudoeste.
11, 12, 13 e 14 – Tempo estável.
15 e 16 – Nova frente fria. No dia 15, entre a tarde e a noite o eixo da frente fria avançou do sul em direção ao Paraná. No dia 16, em ambiente atmosférico instável, choveu na maioria das regiões. No litoral uma linha de instabilidade provocou ventos fortes e incidência de granizo entre a Região Metropolitana de Curitiba às praias. 17 – Tempo estável.
18 – Mais uma linha de instabilidade trouxe temporais para o oeste e o sudoeste do Paraná.
19 – Tempo estável.
20 – Chuvas isoladas. Alguns núcleos foram fortes no norte. À tarde tempestades atingiram o município de Cornélio Procópio e Apucarana. Em Londrina a intensidade máxima dos ventos chegou aos 89,6 km/h (sede do IAPAR) e no aeroporto de 103 km/h.
21 – Novas áreas de instabilidade se organizaram sobre a região da tríplice fronteira e desenvolveram aglomerados isolados de nuvens e organizadas em pequenas linhas. Estas áreas tiveram atuação no sudoeste, oeste e parte da região central. Em Pinhão a velocidade máxima dos ventos foi de 68 km/h. À noite as chuvas atingiram todas as regiões com atuação de novos núcleos isolados de nebulosidade.
22 e 23 – Chuviscos no litoral do Paraná.
24 – Estável
25 – Instabilidade mais forte observada em camadas atmosféricas próxima à superfície entre o sul do Paraguai e o nordeste da Argentina, causaram chuvas isoladas no oeste no sudoeste, acompanhadas por grande concentração de raios.
26 – Foram observadas apenas chuvas originadas nos vales do planalto central.
27 – Chuvas isoladas ao longo do vale do Paranapanema, na divisa norte do Paraná com São Paulo.
28 – Chuvas rápidas na Região Metropolitana de Curitiba
29 – Estável.
30 – Atmosfera volta a ficar instável com chuvas e trovoadas, principalmente entre o noroeste e o sudoeste.
Fig 2_a – Precipitação acumulada b – Desvio em relação à média
DEZEMBRO
Na primeira quinzena de dezembro, as chuvas não foram significativas. Houve três frentes frias que não evoluíram sobre o estado; se deslocaram para o Oceano. As chuvas acumuladas mostradas na Fig. 3_a foram basicamente provocadas por sistemas isolados. Na Fig. 3_b os desvios das chuvas, todos negativos, indicam que para atingir a média será preciso chover muito no próximos 15 dias do mês.
01, 02 e 03 – No dia 01 chuvas leves no norte e no leste. Dia 02 apenas chuviscos no leste e dia 03 estável, sem chuvas no estado.
04 – Primeira frente fria se deslocou pelo litoral centro/norte de Santa Catarina. No Paraná aumento da instabilidade atmosférica provocou o crescimento e o desenvolvimento de nuvens que causaram chuvas rápidas em todas as regiões.
05 – Pequenas áreas de instabilidade se desenvolveram, devido ao forte calor e à disponibilidade de umidade.
06 – As chuvas rápidas continuaram presentes, entre a tarde até o início da noite, sobre todas as regiões paranaenses.
07 – Chuviscos no litoral e pancadas de chuvas isoladas à tarde.
08 e 09 – Estável.
10 – Frente fria no Oceano, na altura do litoral do Paraná. Chuvas isoladas apenas no leste e em parte dos Campos Gerais.
11, 12, 13 e 14 – Estável.
15 – Terceiro sistema frontal, frente fria, que não conseguiu evoluir sobre o continente. No Paraná apenas núcleos isolados de precipitação.
Fig 3_a – Precipitação acumulada b – Desvio em relação à média
Monitoramento do ENSO
Introdução
A conexão entre os oceanos e a atmosfera trazem impactos diretos sobre o tempo e o clima em diferentes pontos do planeta. O El Niño Oscilação Sul, ENOS, é a projeção do conjunto El Niño ou La Niña a partir das Temperaturas da Superfície do Mar (TSM) observadas ao longo do Oceano Pacífico equatorial. O ENSO fornece então umidade em determinados setores ao mesmo tempo em que diminui a quantidade em outras, ou seja, o que acontece num determinado setor do Oceano Pacífico Equatorial pode afetar o tempo ou clima em diferentes partes do Planeta.
El Niño / La Niña
O Centro de Previsões Climáticas/NCEP/NWS da Administração Nacional Oceânica Atmosférica – NOAA divulgou no último dia 14/12/2017 um diagnóstico das condições do El niño/niña que reproduzimos aqui. A Fig. 4 mostra as áreas de monitoramento citados.
Fig 4 – Áreas de monitoramento do El Niño
A La Niña se fortaleceu nos últimos meses, conforme indicam as temperaturas nas camadas superficiais do Oceano, TSM, que apresentam um padrão cada vez mais proeminente abaixo da média no Oceano Pacífico equatorial central e oriental (Fig. 5). O último índice semanal do El Niño 3-4 foi de – 0,8 ºC, com os índices mais orientais do El Niño-3 e Niño-1+2 em torno ou inferior a -1,0 ºC durante grande parte do mês (Fig. 6). As anomalias de temperatura sub-superficial se enfraqueceram levemente durante novembro, no entanto, permaneceram significativamente negativas (Fig. 7) devido à profundidade baixa da termoclina ao longo do Pacífico central e oriental (Fig. 8). A circulação atmosférica sobre o Oceano Pacífico tropical também indicou La Niña, com a convecção suprimida próxima à linha de Internacional de Data (linha que separa o continente americano da Oceania e da Ásia) e intensificada sobre a Indonésia (Fig. 9). Os ventos alísios nos níveis baixos foram mais fortes que a média no Pacífico ocidental e central, com ventos anômalos de oeste e central, com ventos anômalos de oeste nos níveis superiores. Em geral, o sistema oceano-atmosfera reflete a la Niña.
Quase todos os modelos do IRI/CPC (Fig. 10) e do “North American Multi-Model Ensemble (NMME, Fig. 10)” predizem que a La Niña irá persistir durante os meses de verão do Hemisfério Sul 2017-18. Tomando como base as últimas observações e os prognósticos, os preditores favorecem o pico da La Niña entre fraca a moderada durante o verão (com os valores de Niño 3-4, nos 3 meses entre 0,5 ºC e 1,5 ºC).
Resumindo, é provável La Niña (excedendo ~80%) no verão 2017/18, com uma transição para um ENSO neutro muito provavelmente entre a metade ou final do outono.
Fig. 5 – Anomalia (ºC) média da temperatura da superfície do mar (TSM) para a semana centrada em 06 de dezembro de 2017. As anomalias são calculadas utilizando como referência os períodos médios semanais de 1981 – 2010.
Fig. 6 – Série das Temperaturas da superfície do oceano (TSM) numa área média nas regiões de El Niño 1 + 2 [( 0º - 10 ºS, 90 ºO – 80º O), Niño 3 (5º N – 5º S, 150º O – 90º O), Niño 3.4 ( 5ºS, 170º O – 120º O), Niño 4 (150º O – 160º L e 5º N)]. As anomalias de TSM são variações das médias semanais do período base de 1981 – 2010.
Fig. 7 – Anomalias das temperaturas (ºC) em uma seção vertical com profundidade-longitudinal (0-300 m) na parte superior do oceano Pacífico equatorial, centradas na semana de 4 de dezembro de 2017. As anomalias são variações a partir das pêntadas médias durante o período base de 1981 – 2010.
Fig. 8 – Anomalias do conteúdo calórico (ºC) em uma área média do Pacífico equatorial (5º N – 5º S, 180º - 100º O). As anomalias no conteúdo calórico são calculadas como os desvios das pêntadas médias do período base de 1981 – 2010.
Fig 9 – Anomalias da Radiação de Onda Longa emitida (ROL) durante o período de 04/11 a 29/11 de 2016. As anomalias de ROL são calculadas pelas pêntadas-médias do período base de 1981 – 2010.
Fig. 10 – Prognóstico das anomalias da temperatura da superfície do oceano (TSM) na região de El Niño 3.4 (5º N – 5º S, 120º O – 170º O). Figura atualizada em 17 de novembro de 2017.
Previsão para o trimestre janeiro-fevereiro-março de 2018.
De acordo com a previsão probabilística disponibilizada pelo Instituto Nacional de Meteorologia - INMET, Fig 11, acessada em 18/12/2017, http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/prev_estocastica observa-se que, para os estados do Sul, ocorre uma grande variabilidade na probabilidade da variação da chuva acumulada para o trimestre. No Paraná, da região central à norte a probabilidade maior se concentra abaixo do normal, ou seja, a probabilidade indica que as chuvas acumuladas devem ficar abaixo da normal. Da região central do Paraná aos outros estados da região a predominância é que este acumulado médio fique acima da normal. Para o Sul do Brasil estas probabilidades são baixas, diferente dos valores projetados para o Sudeste brasileiro. Embora com o evento da La Niña bastante consistente o efeito na distribuição das precipitações, para o Sul do Brasil, no trimestre jan – fev – mar deve se concentrar em valores muito próximos ao valor normal.
Fig 11 – Previsão de Probabilidade (%) de consenso. Veja mais ...